quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



OS ATLANTES


Quem medita frente ao mar,
Que por ele se enamora,
Só de ouvir os seus segredos?
E toma o jeito de andar
Sem descanso, a toda a hora,
Entre os abismos e medos?

Quem é que, num desafio,
Quer romper o nevoeiro
Das lendas e seu mistério?
De quem a nau, o navio,
Donde vem o marinheiro
Que quer para si o Império?

Quem nunca tem um cansaço
Roça a tormenta e procura
Quanto está feito por Deus?
E onde aporta, a cada passo,
Funde a Cruz na terra escura
Rasgando todos os véus?

De vela nova subida
Venceu todo o elemento
E as correntes de Ar e Mar.
A terra foi toda unida.
O maltês d’oiro sedento
Falta agora conquistar.

Lá no Céu ficou assente
Que o homem do mar salgado
Já seja Amor desde o berço.
Mas ao tempo do Ocidente,
Onde a lei é só pecado,
Levou Morte ao Universo.

Violou o Amor? Quem ignora
Que dar luz ao mundo inteiro
Foi acto de Criação?
Quem vem saber sem demora,
Que toda a Cruz foi braseiro
Para a nossa Redenção?

(in «As Três Taças», Lisboa,
1972)